Tilly Dunnage (Kate Winslet) fugiu da cidade rural em que vivia na Austrália depois de ser acusada de ter se envolvido em um assassinato. Ela parte para a Europa e lá conquista fama e reconhecimento por seu trabalho na alta costura. Decidida a acertar as contas com seu passado, Tilly retorna para casa, transformada em uma mulher atraente e sofisticada. Com sua máquina de costura e estilo haute couture, ela transforma a vida das mulheres e chama a atenção dos homens, em especial de um jovem (Liam Hemsworth). Logo, ela demanda a doce vingança de quem por anos duvidou de sua palavra.
A Vingança está na moda (The Dressmaker, no título original, raro caso que a tradução tem um resultado mais interessante) tem como primeiras imagens um plano aberto, visto de cima, de um ônibus chegando em uma região rural e cortes confusos de crianças brincando. Logo em seguida é mostrado uma mulher deslumbrante (Kate Winslet) dizendo: “eu voltei, seus miseráveis”.
O veículo mostrava o regresso de Myrtle (Winslet) à cidade natal, um povoado interiorano com um ambiente que lembra o velho oeste americano (a trilha reforça essa ideia), mas a história se passa na Austrália. As imagens das crianças são da infância dela e o fato de não estarem tão claras é que a personagem vai lembrando do que ocorreu no dia ao longo do filme. E a miséria, principalmente de caráter, é bem presente.
Na trama, somos rapidamente apresentados a Myrtle ‘Tilly’ Dunnage, uma elegante costureira que conseguiu que seu trabalho fosse reconhecido na conhecida Paris. Tilly está voltando para casa, lugar onde não tem boas recordações. Quando pequena, foi acusada de causar um acidente, que teve como conseqüência o falecimento de um menino, e assim foi enviada para fora da cidade rural australiana onde vivia. Mas agora, anos se passaram e Tilly está de volta e busca sua redenção misturada com vingança sobre todos que conspiraram para o grande abalo que sofrera sua família. Assim, Tilly contará apenas com a ajuda de Teddy, um simpático morador da esquisita cidade, do hilário sargento Farrat (Hugo Weaving) e de sua mãe, a complicada Molly Dunnage (Judy Davis).
É um tom de humor negro/drama enquanto Tilly tenta juntar as peças de um evento traumático de sua infância e tenta se reconectar com sua mãe (Judy Davis, também impecável). Mas a dúvida que não quer calar: podem suas habilidades de costura agraciá-la em meio aos habitantes locais que acreditam que ela fosse uma assassina?
A história gira em torno dessa volta e do impacto dela na região. Tilly saiu da cidade acusada de assassinato. Fato que, dado o trauma, ela não se lembra. Há também um arco importantíssimo envolvendo ela e a mãe. Molly Dunnage, a mãe, vive às traças e está aparentando uma quase senilidade. Os habitantes locais, na maioria, não se dão bem nem com a filha e tampouco com a genitora.
A cidade é recheada de tipos caricatos, mas que incrivelmente funcionam bem. A crítica aos costumes é bem pontuada. A cena do golfe, que serve para dialogar com o passado da protagonista e nos inserir naquele mundo, é um belo resumo do todo: uma certa suspensão de descrença, um humor bem aplicado e um drama raivoso, além de atuações pra lá de dignas.
A personagem da Molly é a melhor coisa aqui. Todas as camadas, transformações e diálogos são brilhantes. Judy Davis mais uma vez triunfa e dá uma força interpretativa que assusta de tão boa. A dobradinha com a Kate Winslet tem um resultado muito positivo. Kate mostra que não é à toa que se enquadra dentre os nomes mais queridos da atualidade. A presença dela tem um impacto que não pode ser ignorado. Hugo Weaving é o exemplo máximo da caricatura, como Sargento Farrat. Só que o desempenho de Weaving é tão glorioso que transforma o que seria o motivo da crítica em um elogio.
O mesmo não pode dizer do Thor genérico, Liam Hemsworth – irmão de Chris Hemsworth, que faz o deus nórdico nos filmes da marvel. O personagem tem um arco importante, mas grosso modo passa a sensação que só está ali para mostrar os músculos. Alguns momentos até funcionam no humor (em geral ao lado de Judy), mas o romance com a personagem da Kate Winslet é bem genérico. Todavia, há um detalhe que o torna diferente de um clichê completo, mas aí é mérito do roteiro e não do ator. A cena em questão causa um efeito de surpresa geral, mérito também da direção.
Claro que com o assunto moda no tema central não posso deixar de falar dos figurinos. Os vestidos estão sensacionais e realmente trazem um contraste interessante naquela comunidade. O design de produção como um todo está de parabéns.
Embora não seja 100% perfeito, há muito para se admirar neste filme. É um longa bastante original em sua proposta e deve te deixar entre o sorriso e a lágrima, provando, mais uma vez, que A Vingança Está na Moda.
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