sábado, 14 de maio de 2016

Filme - 1408


Sexta feira 13 foi ontem, mas o filme de terror é hoje rs, “1408” trabalha psicologicamente com as pessoas sem o uso exagerado de sangue, com um único objetivo: deixar o espectador tão “maluco” quanto o personagem interpretado por John Cusack. E o filme consegue fazer isso com maestria.


Nos primeiros minutos, o trabalho do personagem Mike Enslin (John Cusack) é apresentado ao espectador. Ele é um escritor não muito famoso, e que escreve livros sobre eventos paranormais. Por isso, ele investiga cemitérios, hotéis, mansões e qualquer outro lugar mal assombrado. Só que o objetivo principal dele é mostrar a todos que coisas sobrenaturais não existem.


Nesses minutos iniciais, a vida de Mike Enslin não é explorada. Mas, devido o trailer e algumas informações publicadas em sites, jornais e revistas, o espectador já sabe que ele era casado, e se divorciou devido à morte da filha, morta por um câncer incurável. Então, as investigações que Mike Enslin faz em lugares supostamente mal assombrados são uma forma dele provar a si mesmo que não há vida após a morte, e que ele nunca mais irá ver a sua filha.


A atmosfera de “1408”, que nos minutos iniciais, era até descontraída, se torna em uma atmosfera totalmente tensa quando Mike Enslin fica interessado no quarto 1408 do Hotel Dolphin. Na cena da conversa entre Mike Enslin e o gerente do hotel, Gerald Olin (interpretado por Samuel L. Jackson), o caráter sarcástico e descontraído do personagem de John Cusack fica ainda mais evidente. Nessa cena, Gerald Olin tenta de qualquer jeito evitar que Enslin entre no quarto. E para isso, ele tenta suborná-lo, e também mostra fotos chocantes das 56 pessoas mortas no quarto. Essas pessoas se suicidaram de forma mais brutal possível, em menos de uma hora de hospedagem no quarto. Algumas pulavam da janela, outras se enforcavam, e por aí vai uma série de suicídios totalmente absurdos, “criativos” e chocantes. Mesmo com tudo isso, Enslin decide ficar no quarto por pelo menos uma noite. E quando ele se tranca no quarto, não há mais jeito: todo o clima descontraído do início do longa-metragem se transforma em um clima tenso, assustador e muito perturbador.


Ao entrar no quarto, prepare-se para ver o rosto de John Cusack a todo instante. Afinal, dessa parte até o final, ele aparece em 99,999% (sem exageros...) das cenas. E isso é ruim? Nem um pouco. John Cusack interpreta o seu personagem com um grande talento. Percebemos a transformação que ele sofre durante o filme, e John Cusack consegue fazer essa transformação de uma forma incrível. Se no início, ele era uma pessoa descontraída, corajosa e que não acreditava em coisas sobrenaturais, ao entrar no quarto 1408, ele se torna uma pessoa medrosa, começa a acreditar em coisas sobrenaturais, e vai ficando totalmente louco.


Durante a permanência de Mike Enslin no quarto 1408, são apresentados mais três personagens: o pai dele (em uma cena que não dura nem um minuto), a filha dele (que aparece em alguns flashbacks e no final do filme, em uma cena mostrada no trailer) e a ex-esposa dele (a qual ele tenta se comunicar através da internet no notebook que ele sempre carrega durante as suas “visitas paranormais”). Mesmo com essas aparições, o único personagem que é explorado ao extremo é Mike Enslin: durante todo o longa-metragem, a vida dele é mostrada aos espectadores de uma forma simples, mas que ajuda muito no decorrer da trama.


Felizmente, “1408” é um longa-metragem recheado de sustos: alguns previsíveis, e outros nem um pouco previsíveis. Na realidade, a tensão permanece em todo o filme: a cada minuto, o espectador fica esperando que algo ocorra. Às vezes, algo realmente ocorre. Outras vezes, não ocorre nada. E nas cenas que pensamos que nada irá ocorrer, algo aparece para dar um susto no espectador. Felizmente, muitos sustos do filme são imprevisíveis. É claro que há sustos previsíveis, mas eles são poucos.


Outro ponto positivo é que os produtores decidiram não usar a técnica dos efeitos sonoros para causar tensão no espectador. Afinal, os produtores querem que o espectador sinta o que Mike Enslin passou durante a sua hospedagem no quarto 1408. Por isso, “1408” pode ser considerado talvez um dos filmes mais assustadores.


O divertido mesmo é acompanhar todas as situações que ocorrem no quarto. Uma delas é a cena que nada mais é do que uma homenagem ao “O Iluminado” (obra escrita também por Stephen King): o quarto fica totalmente congelado, com temperatura abaixo de zero. Outra cena muito interessante é quando Enslin tenta ir para o quarto vizinho do lado de fora do hotel: ou seja, através da janela. É quando ele percebe que os quartos vizinhos desapareceram! E quando ele consegue voltar ao quarto, ele vê no mapa do hotel que tudo desapareceu, só restando o quarto 1408. Uma cena extremamente brilhante e inteligente, que mostra como esse filme consegue trabalhar de uma forma criativa com a mente do espectador.


Em seus longos 104 minutos de filme, “1408” consegue cumprir o seu objetivo: deixar o espectador totalmente tenso do começo ao fim. Mas é claro: mesmo com todos os elogios que fiz até agora, “1408” possui alguns pontos negativos. Um deles é o fraco desenvolvimento dos personagens secundários na trama: Gerald Olin, o gerente do hotel, não foi bem explorado; Lily Enslin (ex-esposa de Mike Enslin) não tem importância nenhuma na história; e Katie Enslin (filha de Mike Enslin), apesar do papel significativo na trama, não consegue ser bem desenvolvida. Pelo menos, a excelente atuação de John Cusack esconde esse defeito. Outro problema do longa-metragem é o final: ao término do filme, não sabemos direito se tudo o que aconteceu no quarto era real, ou se tudo foi somente uma ilusão. O certo é que, pelo menos, ele conseguiu se livrar de toda aquela mágoa e tristeza que havia no coração dele devido a perda da filha.


Mesmo com os seus defeitos, “1408” é um excelente filme criado pela mente brilhante de Stephen King. Mikael Hafstrom conseguiu transportar toda a atmosfera assustadora do pequeno conto de Stephen de uma forma inteligente e criativa, mostrando um produto final acima da média. Esse não é somente um filme de terror: é também um drama psicológico que faz com que o espectador pense na possibilidade da vida após a morte. “1408” veio ao mundo para mostrar que não é necessário o uso exagerado de efeitos especiais e cenas chocantes: se um filme conseguir mexer com a mente do espectador, já é um importante passo para tornar o filme um produto de boa qualidade.


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